A Trilogia do Mariachi

Robert Rodriguez, diretor, produtor, roteirista, editor, diretor de fotografia, operador de câmera, compositor, desenhista de produção, supervisor de efeitos especiais, editor de som... Enfim; cara humilde, tendo apenas, até 1991, um curta-metragem no currículo ("Bedhead"; película P&B infantil, bem bonitinho), resolveu partir sério para a carreira cinematográfica...

... Com apenas 7 mil dólares, uma câmera na mão, e seu amigo Carlos Gallardo.

El Mariachi (1992)
O Mariachi

Uma estória simples, sobre um humilde jovem mariachi (Gallardo), que sai em busca de emprego, e entra numa cidade mexicana dominada pelo crime, mais precisamente, por Moco (Peter Marquardt). O mesmo, tinha acabado de mandar matarem um dos criminosos, Azul (Reinol Martínez), que estava atrás das grades. Os tais asseclas, falham, e Azul foge, buscando vingança contra Moco.
Os caminhos do Mariachi e de Azul se cruzam, quando ambos trocam o estojo de violão que possuíam: enquanto um, apenas um violão mesmo, o outro na verdade um arsenal de armas disfarçado. Assim, o inocente Mariachi é confundido como o cruel criminoso, e começa a ser injustamente caçado pelo capangas de Moco.

Não só isso acima, mas ele se apaixona também por Dominó (Consuelo Gómez), uma dona de um bar, o qual o Moco financia, e o mesmo também é apaixonado por ela.

Eu sou suspeito para falar de certos filmes de baixo orçamento; "El Mariachi" é certamente um dos meus filmes prediletos, e um dos mais divertidos, e, de certe forma, mais inspiradores que já assisti.

Rodriguez basicamente foi usado como cobaia para testar drogas clínicas experimentais, para levantar dinheiro para o filme.

Foi o inicio da carreira de um cara que sabe criar personagens carismáticos e interessantes dentro de um cenário outrossim. Onde fica nítido como a criatividade não pode ser interferida pela limitações de um orçamento (as cenas onde alguém é baleado é a evidência disso). 
Falando nisso, o artificio de uma narração em off é justamente usado aqui para explicar como Mariachi, numa cena compra um coco, e saem sem pagar. Narração em off: o coco era grátis.
Aeh, inclusive a tartaruga na estrada no inicio do filme não foi planejada, só estava de passagem por ali.

O filme inicialmente seria lançado direto-em-vídeo (no mercado latino, se não me engano, mas acabou sendo rejeitado), mas acabou chegando aos EUA (onde Rodriguez vetou a proposta do título ser traduzido como "The Player Guitar"), onde realmente ganhou notoriedade, críticas ótimas e prêmios.

Em dezembro de 2011, "El Mariachi" foi considerado "culturalmente, historicamente ou esteticamente significante", pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, e selecionado para preservação no National Film Registry, como um dos filmes que ajudou a inaugurar o bom cinema independente dos anos 90 (citando outro títulos importantes, seriam "Reservoir Dog", "Boyz 'n the Hood", "Clerks"...)

El Mariachi é uma perfeita mistura de "filme mexicano-de-narcotráfico", com "Western-Hollywoodiano", e uma aula de como fazer um filme com tão pouco recursos.




Leia também o post sobre filme feito pelo Rafael Tekken.

Desperado (1995)
A Balada do Pistoleiro


Este filme... É quase que um remake do primeiro mesmo... Ou quase, na verdade.
Sério, olha a sinopse: o mariachi ainda é atormentando em seus sonhos, o terrível fato de ter visto a mulher que amou, Dominó, ser morta por Moco (É, desculpas, spoilers!). Mas ainda, ao lado de um ianque (Steve Buscemi sendo Steve Buscemi), vai catando informações sobre um poderoso traficante chamado Bucho (Joaquim de Almeida) (que tem o mesmo guarda-roupa que o Moco). O mesmo, também está atrás deste tal mariachi com armas no estojo, o qual foi o responsável por um massacre em alguns de seus capangas.

Durante o caminho do herói, ele encontra diversos personagens que Rodriguez cria e descarta com maestria (?): Navajas (Danny Trejo, no que, se não me engano, o 4º papel dele de um personagem relacionado a alguma faca (isso contado como dois, o Machete do "Spy Kids", e o Machete-personagem)), um mercenário contratado por Bucho;
Quentin Tarantino sendo Tarantino (Rodriguez e Tarantino já tinham começado sua amizade
quando Rodriguez fez uma participação na direção de uma cena em "Pulp Fiction");
Campa e Quino (Carlos Gallardo (!) e Albert Michel Jr, respectivamente), amigos mariachis do protagonista (e eles tem estojos-armas também!);
um bartender interpretado por Cheech Marin;
Carolina (Salma Hayek <3), dona de uma livraria local, financiada por Bucho, pois o mesmo é apaixonado por ela, e o Mariachi se apaixona por ela também!
... Éee, já vi isso antes...

Antonio Banderas substitui Gallardo como o Mariachi, uma imagem diferente do caráter inocente e carismático do filme original. Agora, um exímio "Chow Yun-Fat-mexicano"; hábil pistoleiro sarcástico.

O orçamento para esse filme foi consideravelmente maior que o original (embora ainda era bem modesto, tendo em vista que a equipe só tinha dois dublês para o filme inteiro), e este é considerado por muitos, o favorito e o melhor da trilogia. Além disso o filme serviu para catapultar a carreira de Banderas e Hayek no território norte-americano.

O Mariachi original, agora um mero personagem secundário...
Como disse anteriormente, o inocente mariachi de um modesto filme, virou um pistoleiro fodástico, saído direto de um filme de John Woo (a cena do tiroteio no bar é sensacional!)
O título originalmente seria chamado "El Pistolero" (no México, esse título que ficou mesmo), mas em decorrência com o estúdio, foi alterado.

Algumas cenas acabaram por serem cortadas por seu conteúdo violento, inclusive um embate final de tiros entre o Mariachi e Bucho e seus capangas.

Inicialmente, o papel de Bucho seria de Raul Julia, que morreu antes das filmagens (podem lembrar que o último filme dele foi "Street Fighter").

Ambos, "El Mariachi" e "Desperado", foram filmados na Cidade de Acuña.

Assista abaixo o sensacional trailer:



Once Upon A Time In Mexico (2003)
Era Uma Vez No México

Eis que numa conversa entre Tarantino e Rodriguez, Tarantino menciona que Rodriguez teria em mãos sua própria "Trilogia dos Dólares", caso contasse a última aventura do lendário mariachi-pistoleiro do México.
Convencido, em 2001, "Era Uma Vez No México" (acho que é até chamado de "Desperado 2" também) veio ao mundo... Mas foi adiado e só lançado em 2003.

No filme, o Mariachi é recrutado pelo agente da CIA , Sheldon Sands (Johnny Depp), para matar Armando Barillo (Willem Dafoe), um traficante mexicano que está planejando um golpe de Estado contra o presidente do México (Pedro Armendáriz Jr.). Ao mesmo tempo, o Mariachi busca vingança contra o corrupto general Marquez (Gerardo Vigil): responsável pela morte de sua esposa, Carolina, e de sua filha.
Mas Sands acaba envolvendo outros personagens na jogada, como o ex-agente do FBI, Jorge Ramírez (Rubén Blades), e Ajedrez (Eva Mendez), uma agente da AFN.

Vejamos o elenco:
Antonio Banderas 
Johnny Depp
Rubén Blades
Willem Dafoe
Enrique Iglesias
Mickey Rourke
Eva Mendes
Salma Hayek
Marco Leonardi
Pedro Armendáriz Jr.
Danny Trejo
Cheech Marin
Julio Oscar Mechoso

Éee... O Mariachi, o protagonista dessa trilogia, simplesmente perde espaço para os outros personagens, basicamente se tornando coadjuvante, e quase secundário no 3º ato do filme.
Okay, Rodriguez queria fazer uma homenagem a Sergio Leone (o título deixa evidente), tentando fazer dessa última película, o seu "The Good, The Bad and The Ugly", e até nesse filme Eli Wallach rouba o filme inteiro do Clint. Mas em México, o Sands, o coadjuvante (assim como Tuco, de Wallach), não rouba algumas cenas; vira o protagonista e o Mariachi é totalmente jogado de lado (até o personagem do fraco Enrique Iglesias, tem mais destaque).
Apesar de Sands ser um personagem MUITO legal, não faz sentido fazer isso na conclusão da jornada do mariachi.

Ainda falando sobre Sands, este, um dos personagens mais interessante já feitos por Rodriguez, Depp gravou todas as suas cenas em apenas 9 dias, e acabou querendo participar mais das filmagens: ele está na cena do confessionário do Mariachi.
Inclusive, Depp improvisou muitas falas.
Uma pena, toda essa vibe que um monte de gente tem pelo Depp, coloca aquelas imagens dos seus personagens e tal... E sempre se esquece de um dos mais foda já feitos por ele :/

Foi o primeiro filme de Rodriguez filmado HD Digital, invés do costumeiro 35mm.

Aliás, Rodriguez mais tarde saiu do WGA (Associação de Escritores da América), por causa de umas tretas envolvendo a adaptação de "Sin City" (2005), se bem me lembro, envolvendo o nome do Frank Miller nos créditos do filme, ou algo assim.
Assim México sendo seu último quando era participante da WGA.

Assim como o orçamento desse filme é consequentemente melhor que os anteriores, a resposta nas bilheterias também foi excelente (122% a mais que Desperado)

Apesar da trama complicada, o filme tem personagens bons, e ótimas cenas de ação, como a cena de perseguição ("mini Road Warrior), que tem uma música de fundo maravilhosa!

Ah, sim, além disso descobri que não estou maluco: nos três há sempre um garoto diferente de boné e camisa amarela (nos dois últimos tem uma ligeira relevância na trama, esse garoto).

Bem, a jornada do Mariachi; El Mariachi, acabou nas telonas. Rodriguez terminou sua Trilogia do México/Mariachi. Não foi necessariamente um final "UAU", não, não... Mas foi boa a última aventura (ou desventura), do pistoleiro. (e agora só falta terminar a trilogia trash de Machete)

Assista também esse trailer fantástico!
Então, este foi o post, espero que tenham gostado e não se esqueçam de nos acompanhar em nossas Redes Sociais: Twitter, Facebook, Instagram, Orkut (NOT), Filmow. Ah, e deixe seu comentário!





0 comentários: